Friday, December 8, 2006

Um livro




São talhes indefinidos, estes, que as pontas dos dedos das minhas mãos dão forma, no relevo do teu corpo. Já escrevi nele a história de uma vida, com parágrafos findos e outros inacabados pelos imprevistos do tempo.
Começo num tom suave e harmonioso, deixando a tua pele combinar com a minha. Moldo a palma da minha mão, e percorro as linhas por escrever que se descobrem ao virar de cada página.
Há uma essência que nos abarca à luz ténue das chamas acesas. O som que nos toca dá ritmo aos movimentos que nos libertam, e da cabeça aos pés sinto um tremor em surdina que comunica comigo…
Lá fora chora, como um dia alguém me disse. E o sonido da chuva a bater no vidro embaciado pelo calor que exala do teu corpo, faz com que eu chore também.
Tenho às minhas mãos o mapa trilhado de cada dia, sem norte nem coordenadas, e deixo-me ir em teu sentido.
Desta vez quero acabar este parágrafo, mesmo que seja o último do livro que partilhamos.

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