Friday, December 29, 2006

Lembrar


Enquanto a espuma engole as pegadas deixadas, vencida pelo cansaço atiro-me para a areia para recuperar o fôlego que a corrida me roubou. Sinto os músculos a pulsar, e o meu peito num vai vem. Deixo-me embalar pelo som da rebentação, e afagar pelos raios mornos que me vão aquecendo a alma por entre o cheiro e a brisa do mar.
Depois deste momento de mansidão, sento-me a olhar o infinito, onde o azul do céu se funde com o do oceano e onde a minha imaginação costuma pairar. Deixo-me ficar por mais tempo naquela contemplação, meia acordada meia adormecida ...
Lá ao fundo, na outra ponta da praia, vejo semblantes a galgar as ondas montados em tábuas que planam sobre a água. Uns enfrentam a crista quando ela começa e enrolar, outros encaram o envolver já à beira-mar. Mais próximo de mim há um grupo que canta e dança, e no centro da roda que formam dois deles envolvem-se num rodopio de golpes e floreios sem se tocarem. Ainda mais perto, 3 crianças jogam à bola, sem medo das quedas e das rasteiras que vão passando uns aos outros. E assim o tempo passa, para eles e para mim. Olho de novo cada cenário, e neles me revejo. Dou forma a um sorriso, que surge com as imagens formadas pela recordação de momentos onde fomos crianças com a idade de um adulto. E assim, lembro o que me fez sentir feliz por realizar um sonho ou permitir que alguém o realizasse.

Tuesday, December 26, 2006

... e soube tão bem


Quando voltei despi-me do resto da vida que se ficou de vez, e vesti as vestes novas que encontrei ao chegar. Aprontei-me para estar com aqueles que mais me amam, e que sempre me receberam desta forma singular, sem moldes nem retoques, genuínos no que têm para dar.
Foi isto que eu pedi e foi isto que tive… a melhor prenda de Natal!

Monday, December 25, 2006

Origens



Já vai alta a noite com um quarto de lua.
Pela primeira vez, decidi passar a noite da passagem de ano só, comigo mesma e mais ninguém.
Estou sentada no alpendre da minha casa, no primeiro degrau do escadório e encostada ao pilar de carvalho desgastado pelo tempo. Numa das mãos seguro uma taça de Asti de 1970, enquanto na outra uma cigarrilha de café que uma das minhas primas me trouxe de qualquer sitio para lá do Atlântico.
Olho para o infinito, e procuro no breu da noite uma silhueta de alguém inesperado, que me surja por entre os salgueiros velhos plantados junto à cerca. Consigo ouvir o tresmalhar das suas folhas, assim como o piar de um mocho Galego que me acompanha desde as noites ainda mornas do Outono. E quando o vento muda, chega-me aos ouvidos o sonido da corrente do riacho que delimita o lado Oeste do padoc.
Uma ligeira brisa faz balançar a cadeira de baloiço, e é ai que me lembro o quanto mais confortável ela é, que aquele tronco velho que me arranha as costas. Sento-me nela.
Dou o meu último trago, e puxo bem por aquela cigarrilha…
“Feliz Ano”, suspiro eu, “espero que seja bem melhor do que este que me deixou!"
Não tenho memória de nada assim, tão mau e indesejável, como várias situações que me ocorreram nos últimos 366 dias!
Falhei, pessoal e profissionalmente. E a minha vida social também já teve melhores momentos. Os feitos realizados ficaram muito aquém das expectativas criadas. E os poucos mas bem conseguidos, duraram por pouco tempo.
Algumas vezes soube onde errei, e admiti-o sem hesitar. Outras, não consegui ver onde estava o mal, assim como até hoje não o encontrei.
Perdi quem me era mais querido e insubstituível, deixei quem amei e desprezei quem um dia me amou. Não fiz um esforço para ser ouvinte quando me pediram, e não falei quando realmente devia ter falado… fiquei triste, arrependida, e até mesmo frustrada…
Sinto-me ainda fraca por não controlar a impotência que me atinge inexplicavelmente, e me impede de ser aquela pessoa de que me lembro mais, e que um dia fui… sim, que muitos dias fui.
Fiquei sozinha nesta noite para tentar perceber de uma vez por todas a origem, a razão, ou talvez as raízes deste jeito de estar na vida, que tanto me agonia.
Voltei aqui, a este sítio que me viu crescer, e ser aquela que eu busco reencontrar, para reabastecer-me com esta veemência pura e serena que eu sinto toda a vez que cá volto. Mas custou… nos primeiros dias nem a integridade deste ar que me chegava ao âmago me valeu! Era como o mal se tivesse espalhado e depois, sentindo o fim dos seus dias, vincou-se mais que nunca nos actos e reminiscências de todos os ontens. Isolei-me por completo. Fiquei sem saber dos entes queridos e amigos, não desejei Bom Ano a ninguém… passou-me a loucura de um egoísmo estúpido pela cabeça, mas acordei desse transe a tempo! A tempo de estar agora aqui, de taça de Asti na mão e cigarrilha na outra, e com a esperança de que o ar que o Ano Novo traz me limpe das maleitas que afogaram muitas das minhas horas vividas…no ano que findou.
Pode ser que ainda vá a tempo, e desejar um Bom Ano a quem não desejei…
Brigite
Tirado de "um sitio".

Renascer


Quero fechar os olhos e adormecer, e quando acordar, ter nascido de novo. Há momentos, há dias, em que o maior desejo é fugir, ficar só!Queria ter o poder de parar o tempo, isolar-me e reflectir no que fiz, no que disse ou que insinuei! Depois, queria ter o poder de voltar atrás momentos antes, e reviver aquele momento que me pôs fora de mim!
E se assim fosse, que seria esta existência? Uma utopia feita ao nosso grado e à nossa forma? Não tinha sentido!
Pois então porque aspiro este poder se ao mesmo tempo o menosprezo? Porque o arrependimento é um sentimento forte, e por vezes faz doer! Aceito então! O que está feito, feito está! Desafogo com alguém que me compreende, com alguém que nos fez ver que errámos, que não fomos correctos quando pensámos que o estávamos a ser. Perguntaram-me quem sou, mas eu não soube responder! E penso que nunca soube bem quem era… aprendi que cada dia é um dia, e que aquilo que não se faz hoje porque parece incorrecto, amanhã mesmo pode fazer sentido! Há situações, que mesmo que se pense mais que uma vez antes de agir, não se consegue controlar. Neste mundo não estamos sós! Mas não é um dia que faz a pessoa que somos, que nos define como ser humano racional. São todos os dias, os bons e os maus, os felizes e os infelizes, o passado, o presente, e também o futuro! Esta forma de ser não é um livro como esse que lemos ao adormecer e ansiamos pelo fim. Não há fecho nem estagnação na maneira de se viver. Aprendemos a errar e a corrigir, a relembrar e a ensinar, e assim continuamos a redescobrir-nos cada dia desta vida…
Brigite
Tirado de "um sitio".

Sunday, December 17, 2006

Contigo

In the arms of an angel
Fly away from here
From this dark cold hotel room
And the endlessness that you fear
You are pulled from the wreckage
Of your silent reverie
You’re in the arms of the angel
May you find some comfort there

Sarah McLachlan

Sim, nunca a ouvimos juntos... mas eu sempre a ouvi contigo...

Menino


Chegaste, com esse teu jeito, e na tua face um sorriso rasgado.
Abro os braços para te receber, e no ímpeto do enlace, dás-me um beijo ternurento… tão bom!
Perco-me por completo quando estou contigo. O tempo pára!
Sigo-te. Contigo vou para todo o lado, corro o teu mundo onde só deixas entrar quem tu queres, e partilho todas as brincadeiras e sonhos da tua criança.
A tua inocência e docilidade dão-me paz. Se soubesses o bem que me chega quando estamos juntos! Ficaria por tempos e tempos nesta serenidade que nos embala, onde os outros são companheiros de folia, e as coisas que nos rodeiam são mais um divertimento por desvendar.
Quando o cansaço te toca, e os teus olhos não mentem, aninhaste no meu ventre em busca do calor e do repouso.
Quem me dera ter mais destes dias, onde respiro nostalgia e a alegria corre-me no âmago. Seria tão bom ficares sempre assim, menino! De olhos vivos e profundos, como a alma que transpiras em cada gesto que me prendas.

Saturday, December 16, 2006

Fim de dia


Aqui estou eu, à espera da minha vez neste fim de dia, deitada no chão frio a arrefecer o eco das palavras murmuradas!
... não consegue discernir o que é bem e o que é mal, só sabe da agitação que lhe tenta. Já ensaiou o faz de conta, onde o silêncio era o pano de fundo e a indiscrição o protagonista, mas nem assim! Os actos surgem uns a seguir aos outros sem qualquer tipo de pausa, e os elos vão-se combinando com o desenrolar da demora: nasce, cresce, dá, recebe e morre. Só o período entre eles vai variando mas com uma particular peculiaridade… 4 semanas, 4 meses, 4 anos… não lhes nega o sentimento que transmitem, mas têm eles todos o mesmo conto?
o mesmo sentido? a mesma intensidade?
a mesma nitidez? a mesma sinceridade? a mesma singularidade?
o mesmo alento? a mesma experiência? a mesma sensibilidade? a mesma paixão?
Deixo-me de estar, a minha vez chegou com o dia no fim!

Wednesday, December 13, 2006

Como se fosse a última vez

Ouve...
Sente...
Deixa-te ir!
Abraça-me nesse aconchego forte, e beija-me, beija-me muito, como esta noite fosse a última vez...

Friday, December 8, 2006

Um livro




São talhes indefinidos, estes, que as pontas dos dedos das minhas mãos dão forma, no relevo do teu corpo. Já escrevi nele a história de uma vida, com parágrafos findos e outros inacabados pelos imprevistos do tempo.
Começo num tom suave e harmonioso, deixando a tua pele combinar com a minha. Moldo a palma da minha mão, e percorro as linhas por escrever que se descobrem ao virar de cada página.
Há uma essência que nos abarca à luz ténue das chamas acesas. O som que nos toca dá ritmo aos movimentos que nos libertam, e da cabeça aos pés sinto um tremor em surdina que comunica comigo…
Lá fora chora, como um dia alguém me disse. E o sonido da chuva a bater no vidro embaciado pelo calor que exala do teu corpo, faz com que eu chore também.
Tenho às minhas mãos o mapa trilhado de cada dia, sem norte nem coordenadas, e deixo-me ir em teu sentido.
Desta vez quero acabar este parágrafo, mesmo que seja o último do livro que partilhamos.

Wednesday, December 6, 2006

Sunday, December 3, 2006

De novo


Quero voltar ao início de todos os entes e fechar a porta que um dia alguém abriu! E da próxima vez que a desimpedir, perguntar primeiro quem lá vem...

Não é o feitiço nem a magia,
A mandar no envolto deste viver.
Onde o céu não se distingue do mar,
(Como teu corpo moldado ao meu),
E quem o lega também não é um ser!

São os actos impensados,
E esta fome de durar assim,
Sem regras nem posturas,
E só de gestos consumados.

Esta noite vou estar e ficar aqui… na eternidade do tempo e do espaço que nos separa do mundo que não é nosso.
Só sei o que penso e o que sinto, e o que quero falar a quem me toca com o olhar douto da afecção.
Por um dia morreria em ensejo da mágoa que de quando a quando espreita, sem razão nem perdão, no espírito avesso do corpo indignado.

Quero experimentar de novo
A oferenda que um dia condenei!
Olhar-te como da primeira vez,
E dizer-te agora o quanto gostei!

... de novo!

Friday, December 1, 2006

anjo

Tudo começou um dia com Gabriel... depois vieram os outros, um para cada momento:

Angels - Robbie Williams




Waiting on an Angel - Ben Harper





Angel - Sarah Mclachlan





Porque na terra os há... e muitos deles não sabem que o são!

Inato


Os mesmos gestos.
Os mesmos hábitos.
As mesmas atitudes.
As mesmas conversas.
Nada muda! Nem o tempo que faz lá fora!
É sempre nesta estação... é agora que tudo acontece!
Não adianta! não consegues… não o vais fazer mesmo que existam razões! Já nasceu contigo, é inato ao teu ser, como cada sinal que te marca e distingue de outro.
Maça-te.
Dá-te ânsias por vezes.
Choras de raiva quando te sentes impotente à sua persistência.
Não consegues despir-te desse trapo que teima em cobrir-te… que faz de teu resguardo mas que te assombra o espírito...

Tuesday, November 28, 2006

Coisas...


Porque há situações que não se explicam, e por muito sábios que sejamos, nem sempre existe contíguo de termos para descrever estes ápices da nossa existência.
Se a vida tivesse seguido outro trilho, estarias agora aqui?
A decisão da escolha já foi tomada, e com ela não se volta atrás, por mais sequelas negativas que lhe estejam inerentes.
O que te faz sorrir nem sempre é aquilo que mais feliz te faz , pois pensas em demasia naquilo que é irrelevante, e perdes-te no tempo que já não volta, desprezando o que se te esvaía agora em teu redor. Deixas de ser tu para seres outrem que não conheces, e concluis que não conseguiste mais por realizares tal proeza.
Iludiste-te momentaneamente quando não seguiste o teu instinto, e agora, que tudo se esgota na origem por estar acumulado na represa, estoira pela ordem natural das coisas!
É então que o inesperado nos traz à realidade, ou a concretização do mais temido nos desperta para a vida…
São as relações agora que se fortificam, porque o valor devido que não se fazia prevalecer pela vergonha de assim ser, se vinca de vez na tua atitude e resulta num enleio quente e sentido!
Renasce aquele que um dia foste e pensavas já o ter perdido, e marcas posição naquele confronto que temias inconscientemente...

Monday, November 20, 2006

De mãos dadas



Ontem fui ver-te.
Estavas sentado no lugar de sempre; sonolento e taciturno.
Chamei-te.
Deste por mim e sorriste-te todo.
Dei-te um beijo…
Perguntaste como eu estava. Respondi e a mesma pergunta te fiz.
Brindaste-me com a tua mão. Peguei nela e olhei-te... mas não estava a ver-te. Por instantes... fugi dali…
Estava de mão dada, sim, mas não era contigo. Só o frio e a força débil de muitas décadas vividas, eram os mesmos.
Queria ter apertado mais vezes aquela mão, e conseguir um sorriso maroto das piadas que lhe davam mais brilho nos olhos…
Puxaste a minha mão e chamaste-me daquela forma que há muito não chamavas.
Parei de fugir. Ofereci-te um abraço e outro beijo, e um soluço que se escapou do meu peito.
Sorriste.
Levantaste-te e fomos passear ao sol desta estação. Sentámo-nos e olhei-te outra vez…
Dei graças por estares ali, comigo, e daquela forma tão singular.

...



Não o digas. Não digas nada. Não precisas de dizer…
Eu sei-o!
Basta olhar-te… teus olhos dizem-me mais do que poderias falar!
Basta tocar-te… tua mão na minha. O calor e a força que transmites são a resposta sem pergunta!

Amanhã é outro dia…

Sunday, November 12, 2006

Maçã e Canela

É por entre as bolhas de sabão e a tepidez que me forra os poros, que neste banho de imersão me afundo e depois levito!
O vapor envolve-me o corpo, e deixa um rasto de maçã e canela. O seu âmago arrebata-me para lá destas quatro paredes, onde aquela melodia não cessa de tocar!
Deixo-me consumir pelas notas que se vão entranhando, uma a uma, em cada bolha de sabão, e que ao rebentarem se unem numa pauta só…

Saturday, November 11, 2006

Embora



Peguei em tudo… e tudo meti na mala!
Puxei a porta e ela fechou-se atrás de mim! Não olhei uma única vez para trás (assim não vai custar tanto)!
Mudei de vida! E hei-de mudar todas as vezes que for essencial, para nunca deixar de viver esta minha máxima…
Percorro o trilho que não me é de todo desconhecido, e por isso me deixo levar, sem norte e sem bússola, que nem uma pena solta! Prefiro olhar de quando a quando as estrelas, sei que elas estão sempre lá… nunca me desampararam nem agora o vão fazer!
E se me sentir cansada nesta caminhada, entrego-me ao meu tutor, o destino! É ele que me dá o fôlego de cada dia que nasce, desde o dia em que eu surgi.

Thursday, November 9, 2006

gabriel


I can fly
but I want his wings
i can shine even in the darkness
but I crave the light that he brings
revel in the songs that he sings
my angel gabriel
i can love
but I need his heart
i am strong even on my own
but from him I never want to part
he's been there since the very start
my angel gabriel
my angel gabriel
bless the day he came to be
angel's wings carried him to me
heavenly
i can fly
but I want his wings
i can shine even in the darkness
but I crave the light that he brings
revel in the songs that he sings
my angel gabriel
my angel gabriel
my angel gabriel
Lamb

Monday, November 6, 2006

Ganas !!!



Não sei o que me deu hoje, só sei que tive insónias como há muito não tinha! Sentia um fervor imenso dentro de mim, e enquanto estive esperta, a cabeça latejou incessantemente!
Das palmas das mãos escorria-me suor, como se eu tivesse estado a escrever horas a fio enquanto o tempo, meu aliado, esperava por mim!
A minha garganta estava seca, como se eu tivesse falado sem saber o que é uma pausa!
Parece que todos aqueles vocábulos e frases articuladas que guardei durante o passar dos dias, e que nos momentos mais oportunos não fui suficientemente forte para os dizer, se libertavam todos de uma só vez. Dos dedos soltava tinta, e da boca cuspia sons!
E enquanto se construía à minha frente uma página da minha vida, ofuscada pelas acções não premeditadas do meu inconsciente, encontrei o que (afinal) buscava… a razão das minhas insonolências…
Já com um quarto de século vivido, a experiência de vida não é nula, nem suficiente para dizer que já vivi o que tinha para viver. Sei que já fui muito feliz e muito triste, já ganhei e já perdi, já cai e levantei-me e já conheci em mim alguém que desconhecia, já lutei por o que hoje tenho, e já ultrapassei o que mais temia! Sei que tudo aquilo que dependia de mim para estar agora aqui, o tenho feito (ou tentado fazer) da melhor forma que me tem sido possível, mas também sei que aquilo que para mim é correcto, é errado para muitos outros, e o que me parece bem, pode ser o mal de outrem…
É por isso que dispenso a aparência com que tentam iludir os outros, e com que ensaiam transpor o que ainda não foi digerido! Não assimilo bem o lamento da perda de algo que nunca se teve, assim como as lágrimas que se soltam pela mágoa da fantasia que subestimou a verdade! Não me convencem com frases feitas e palavras ousadas, alimentando a mente de quem as lê com imagens do que não se viveu na sua plenitude!
Não é assim que se vive… num mundo que não este… onde os sonhos mais sonhados são o escape do dia a dia de quem não sabe aceitar o que lhe chegou às mãos, e afinal foi o que andou a derramar desde sempre!

Sunday, November 5, 2006

Acordar

Imagem: Lajos Filep


Já é dia, mas a noite teima em não me deixar!
Ainda estão bem presentes o indistinto, o odor, e o som do quase silêncio sem modéstia, típicos do cenário propositado que foi a directa de paixão descomedida. Momentos de dejà vou que me preencheram o repouso de sonhos quentes e extasiantes de dois amantes insaciados de paixão… não quero acordar!
Mas o corpo é quem manda! A desidratação de um físico exausto é mais forte e põe-me alerta!
Pesa-me a cabeça e sufoco quando olho pela janela e noto que a chuva não cessou! Os uivos do vento soam-me a soluços, tal e qual a criança que chora desesperada por algo que não alcança…
A emoção é momentânea!
Desligo-me por momentos deste mundo e do outro, e tento entrar dentro de mim! Relembro cada mili segundo do passado bem presente e o que me levou até ali. Primeiro, a instabilidade do meu próprio, a incerteza da certeza, a digestão de veredicto; depois, o prazer de cada toque, o gozo de contemplar, o murmúrio e a pausa do deslumbramento!
Tudo se limita à fúria experimentada do antes e ao sabor inigualável do depois! Foi a cura do mal alojado em mim…
Um raio de sol atreveu-se a rasgar as nuvens, o sufoco quebrou e enchi-me de ar até não poder mais.
O vento amainou e eu acordei… de vez!!

Friday, November 3, 2006

A Consciência do momento



É estranho estar assim…
Antes de ontem, era com o que eu sonhava!
Ontem, era o que mais me sufocava!
Hoje, que experimento tudo isto, parece que não é autêntico!
Quando a verdade é assim, tão boníssima e deleitosa de se viver, não consigo agarrá-la com toda a força merecida, e por ocasiões a deixo escapar por entre os dedos das minhas mãos. São momentos em que me perco por este devaneio de vida, e em que não os logro da forma devida.
Porém, assim como experimento estas fracções do tempo e do espaço, também tenho outros instantes em que acordo do transe do deleite, e tomo consciência do genuíno que me envolve!
É então que sorrio! Respiro fundo e sinto o meu peito a pedir mais do que apreciou! Este ar puro, sincero e maduro que me tem preenchido os dias desde que me redescobri, que me conforta todas as noites e me acaricia durante o dia! E é então que me (re)consciencializo e olho tudo de uma forma mais sóbria e crescida, que até então receava fazer-se mostrar!

Friday, October 27, 2006

CREEP

Há dias assim... hoje foi um deles, e sei que ainda muitos o vão ser!

Sunday, October 22, 2006

Telepatia


Telepatia
Silêncio calma
Feitiçaria
Da tua alma

(...)

Lara Li


Só quem passa por este “silêncio calma”, sabe o alento que esta sentença tem! Há dias em que me intimida de tão forte que ela é, a telepatia. Sinto-a desde o dia que experimento o afecto que me enche a alma. Mas o que me assusta ainda mais, é quando o afecto se quebra pela distância e a telepatia permanece, mas da forma mais discreta que alguma vez se pronunciou.
Imagina-te, longe de tudo e de todos que preenchem o teu dia a dia, e sem quês nem porquês encontras-te, no mundo onde só tu tens licença para entrar, com alguém a quem a entrada lhe devia estar interdita.
- Pensava em ti!
- E eu em ti!

E ai percebes que nem tudo se perdeu! E o mundo que pensavas que era só teu é vosso como nunca o deixou de ser, e a telepatia, agora mais reduta que nunca, rege cada momento de tua vida.

(...)
Passo a passo
Sem ter medo
Abrimos, soltámos
O nosso segredo

E a sorrir
Devorámos o mundo
Num abraço
Tão Profundo

Telepatia
Sem contratempo
Deixei-te um dia
Num desalento
E eu sonhava
Existia
Pra sempre pra sempre
Foi pura poesia

Sem pensar
Não vi-te, passavas
pelo meu corpo
Não ficavas

Telepatia…
Minha querida eu soube sempre
Eu já sabia que te ia conhecer
Minha querida era fatal
Fiz tanta Força
Para isto acontecer
És tão bonita meu amor
Eu não te queria perder
Já sei, adivinho
O que estás a pensar
Vim do outro lado do mar
Talvez um dia volte, não sei
Mas penso em ti, acredita
Adivinhei-te em segundos
Quando jurámos eternidade

E a sorrir
Devorámos o mundo
Num abraço
Tão profundo

Telepatia
Silencia calma
Feitiçaria
Da tua Alma


Lara Li

Saturday, October 21, 2006

As minhas Asas


Por todos os momentos... que absorvi nos dias que rechearam até hoje os melhores anos da minha vida! Por todas as pessoas... que eu conheci e que hoje têm um lugar especial cá dentro! Pelas experiências... que me fizeram crescer e aprender a ser o que hoje sou!
Deixo aqui este poema, adaptado para música por uma das mulheres mais mulheres deste mundo, detentora de uma voz singular e envolvente, e que me acompanhou nos que foram até hoje, os melhores anos da minha vida…obrigada!

As Minhas Asas

Eu tinha umas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Que, em me eu cansando da terra,
Batia-as, voava ao céu.
– Eram brancas, brancas, brancas,
Como as do anjo que mas deu:
Eu inocente como elas,
Por isso voava ao céu.

Veio a cobiça da terra.
Vinha para me tentar;
Por seus montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.
– Veio a ambição, co'as grandezas,
Vinham para mas cortar
Davam-me poder e glória
Por nenhum preço as quis dar.

Porque as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Em me eu cansando da terra
Batia-as, voava ao céu.

Mas uma noite sem lua
Que eu contemplava as estrelas,
E já suspenso da terra,
Ia voar para elas,
– Deixei descair os olhos
Do céu alto e das estrelas...
Vi entre a névoa da terra,
Outra luz mais bela que elas.

E as minhas asas brancas,

Asas que um anjo me deu,
Para a terra me pesavam,
Já não se erguiam ao céu.
Cegou-me essa luz funesta
De enfeitiçados amores...
Fatal amor, negra hora
Foi aquela hora de dores

– Tudo perdi nessa hora
Que provei nos seus amores
O doce fel do deleite,
O acre prazer das dores.

E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu
Pena a pena me caíram...
Nunca mais voei ao céu.

Almeida Garrett

Monday, October 16, 2006

À espera


Fecha os olhos! Consegues ver(-te)?

Sim! Estou sentada na plateia, e a luz alaga o espaço à minha volta! À minha frente está um palco e sobre ele um pano caído. Não sei à quanto tempo estou ali, só sei que estou à espera…
Olho em minha volta e apercebe-mo que estou sozinha, mas ninguém ali está para ver!
Estranho!
Rebusco na minha mente mas não consigo lembrar o que ali vou assistir. Sinto apenas movimento por trás da cortina!
Já não deve faltar muito!
As vozes em sussurro são sinal de concentração e seja o que for que está para começar, deve ser para breve…
O tempo passa…
O movimento e as vozes continuam, e eu, à espera! Parecem lembranças para o meu espírito! Penso que sei o que afinal ali vou contemplar mas não tenho a certeza, o pano não sobe e a peça não tem meio de iniciar!
Ao menos que acabe o que ali vai atrás!
Mas não me parece que tenha fim…
Com tanta espera o sono começa a abraçar o meu corpo, e eu, carente de um afecto confortante, deixo-me levar!
Pode ser que quando acordar a cena já tenha principiado!

Foi um arrepio que me acordou! Esfrego os olhos preguiçosos que do adormecimento não se querem libertar, mas a curiosidade do que se iria apresentar à minha frente despertou-me por fim!
Já acabou tudo!
Mas não… ainda o pano estava caído com o seu abano! Só as vozes se tinham calado…e a peça, afinal, essa ainda está por encenar!

Sunday, October 15, 2006

P'ra ti



Eu tentei… mas não consegui!
Eu prometi… mas não cumpri!

Fui fraca agora, no momento em que me deixei levar pelo alento deste meu sentimento! Por isso, é p’ra ti o que aqui hoje escrevo …
Já não é a primeira… só sei que desta vez é diferente, pois das outras só tu me lias…e hoje, escrevo aqui… p’ra ti!

Não vou falar do que um dia nos uniu e hoje ainda nos brinda!
Não vou falar do que me faz sorrir todos os dias nem do que me (re)renova a vida depois de cada noite dormida ao teu lado!
Não vou lembrar as lágrimas libertas por momentos repartidos de tristezas ou alegrias nem de diálogos partilhados entre os espíritos que nos moram!
Não vou falar dos sonhos esboçados um dia nem daqueles que já se realizaram!
Não vou falar da amargura do ontem nem da incerteza do amanhã!

Vou falar do agora… deste mesmo momento em que sou fraca e ao mesmo tempo me dispo dele, como o bicho que renova a pele e se apronta para a nova estação!
Vou falar do que penso nesta fracção de segundo que se esvaia pelo corpo adentro na insatisfação do finito, que é, esta vida…

Um beijo

Thursday, October 5, 2006

Memórias


Hoje é Outono! Sim, hoje é Outono, assim como o foi há um ano atrás, e há dois, e igualmente o será daqui a um ano!Assim como as estações têm sazonalidade, também os “momentos” a têm! Não porque se repetem obrigatoriamente, mas sim pelas memórias a si associadas, e essas sim, se repisam! São recordações que amadurecem no interior, de modo semelhante às folhas da árvore caduca e que se preparam para partir. Mas ao contrário das folhas, as memórias não abalam! Estas vão ficando cá dentro, sem pedir licença ou autorização. Nunca se somem, apenas adormecem, mas estão sempre lá, prontas para serem recordadas no instante exacto.Eu gosto do Outono! Gosto das folhas das árvores, dos seus tons doirados e dos seus odores! Gosto de as sentir a ameaçarem-me o cabelo, quando levadas pelo vento! Gosto de as sentir debaixo dos pés quando se quebram ao meu pisar! Mas as memórias não! Não gosto das memórias desta estação porque me põe amarga como o vinho novo que não recebeu o sol suficiente ou como a marrone, que não é a castagne, que até os esquilos expelem.Espero um dia que estas lembranças se mudem ou sejam como aquela avezinha que habitava o meu jardim! Só na Primavera a ouvia entoar os seus piados sonantes, que apontavam a chegada da folha nova e tenaz! Serão folhas de um forro uníssono, em cada árvore outrora despida e exausta da voracidade amarga da outra estação, onde a avezinha não ousava ocorrer!Vou fazer do tempo o meu melhor amigo e confiar naquilo que ele me sussurra! Tenho esperança de um dia saborear o Outono da mesma forma que deleito a Primavera, sem temer as memórias que lhe estão ligadas!

Friday, September 29, 2006

Faz-me bem

Faz-me bem...
Acordar por acordar, e sentir o quente do sol no meu corpo!
Sorrir por sorrir, e ver o reflexo na face de outrém!
Olhar por olhar, e assimilar a essência do ser!
Andar por andar, e experimentar a fadiga do corpo!
Chorar por chorar, e desalojar a dor!
Falar por falar, e ser ouvida pelo confidente!
Amar por amar, porque me faz bem...

Amar em verde


Amar em verde! Um dia aconteceu!
Mas a sua secunda, a quem lhe chamam esperança, morreu!
E levou-me o fervor da paixão...

Veio o imenso mar suprir o prado dos teus olhos,
Mas o teu amor ninguém o veio aparar.
A dor acorreu a tua alma, e em mim a solidão.

Só hoje concebo a tua mágoa... por afim experimentei!

Hoje só feliz!
Hoje tu és feliz!
E em ambos perdura a afeição!

...silêncio


É neste silêncio mudo que falo e desabafo.
A imensidão do pensamento que divaga para além do que é conhecido por cada fracção do nosso ser, por vezes torna-se indigesto. Sinto-me como um recém-nascido, que se sacia sem fim até aquele importuno bolso se soltar do seu corpo!
A ampla ansia que se vai apoderando de nós acaba por ser traiçoeira, e aquilo que poderia ser um doce, torna-se no mais desagradável trago que deste em toda a tua vida.
E nada podes fazer! O que está feito, feito está!
A impotência corre-te nas veias, e é neste silêncio que tentas mais uma vez assimilar a agonia.
Sabes que ninguém te ouve, mas porfias em falar. Gritas, mas somente um sussurro te enche a alma.
Por enquanto é assim... ninguém te ouve, ninguém te compreende... assim como o recém-nascido acabado de chegar a este mundo, em silêncio!

Monday, September 25, 2006

Uma lufada de ar fresco!


Foi hoje de manhã quando a senti... esta lufada de ar fresco! Espero que perdure, pois a janela vai ficar aberta para perpetuar este outro sentido que descobri, ao redescobrir-me. Por hoje é suficiente, o dia começou cedo...